Ficar de castigo

Texto: Gabriela Oliveira
31 Maio 2009

ImageHá estratégias que podem ajudar os pais a lidarem com as birras e travessuras dos filhos. É preciso estabelecer regras e dar castigos de forma «adequada e coerente», sem nunca recorrer à violência, física ou psicológica. A psicóloga Eva Delgado Martins explica como é que isso se consegue.

«Está quieto, não estragues isso». «Despacha-te, estamos à tua espera». «Quantas vezes é preciso repetir! Já te disse vinte vezes para lavares os dentes e ires para a cama!» Frases como estas sobem de tom e acabam, muitas vezes, com gritos e ameaças de castigos inconsequentes. O cenário faz parte do quotidiano de grande parte das famílias: «pais papagaio», que repetem até à exaustão as mesmas coisas, e filhos «surdos selectivos» que só ouvem o que lhes interessa. Mas tem mesmo que ser assim? Haverá alguma forma de tornar o quotidiano das famílias menos penoso? De diminuir os conflitos entre pais e filhos? De tornar as crianças mais responsáveis e participativas? E de evitar reacções impulsivas, desproporcionadas e violentas? «Todos os pais sentem dificuldades com os filhos, saber educar não é inato, todos cometem erros mas é possível, com a mudança de atitude e pequenas alterações, conseguir melhorias enormes no relacionamento», assegura a psicóloga Eva Delgado Martins.

«Grande parte dos problemas da adolescência tem a sua raíz na infância, a relação conflituosa estabelece-se nos primeiros anos e é preciso evitar que isso aconteça. Muitos pais sentem-se angustiados com a evolução dos filhos, não têm com quem partilhar dúvidas sem serem criticados ou julgados». Eva Delgado Martins, doutoranda em Educação Parental e docente do ISPA (Instituto de Psicologia Aplicada), nos últimos anos tem organizado «conversas com pais» em vários pontos do país para promover a reflexão conjunta e a partilha de experiências. «Ao contrário do que se pensa, a maioria dos pais quer ser ajudada, sobretudo hoje em dia, em que a família nuclear está demasiado só. É necessário prevenir e não esperar que os problemas se agudizem, levando a rupturas irreparáveis». Ainda antes de o bebé nascer e à medida que a criança vai crescendo, é importante que os pais dialoguem e estejam de acordo quanto à forma de educar, definindo as tarefas que vão repartir e os aspectos que consideram essenciais, para na pressão do momento conseguirem agir com coerência. «Muitos só se apercebem que nunca pararam para avaliar e combinar o modo de actuar em relação aos filhos quando chegam às sessões.»

COM REGRAS TODOS SE ENTENDEM

Se os pais tivessem um livro de reclamações, entre as queixas mais frequentes estariam as birras dos filhos, a sua incapacidade para aceitar ordens e a tendência crónica para a desarrumação e aversão às tarefas domésticas. «Só queríamos que ele fosse mais responsável, que não tivéssemos de repetir tudo...», dizem alguns pais. Outros desejam simplesmente poder dormir ou relaxar quando chegam a casa. «Para que tudo decorra com mais tranquilidade, há um princípio básico: é preciso estabelecer regras e fazê-las cumprir. Sem regras, sem limites, as crianças sentem-se inseguras, não sabem o que podem ou não fazer, vão continuamente pôr os pais à prova e experimentar até onde podem ir.» Se ficar instituído que, depois da brincadeira, têm de arrumar os brinquedos, as crianças acabam por interiorizar essa regra. O mesmo sucede em relação a arrumar os sapatos, colocar a roupa em cima da cadeira ou fazer a cama antes de saírem de casa. «Às vezes os filhos não participam mais porque não são incentivados nem sabem que isso é esperado deles.»

fonte Pais &Filhos

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